Desenvolvido por Ricardo Ventura
ricardo.ventura777@hotmail.com
A JUSTIÇA DIVINA NA UMBANDA
Olorum gera tudo em Si e uma de suas gerações é a Justiça Divina, que dá o devido equilíbrio a tudo o que gera.

Essa sua qualidade equilibradora está em tudo e em todos e mantém toda a criação divina em equilíbrio e harmonia, dando a tudo e seu ponto de equilíbrio.

Olorum gerou, nessa Sua qualidade equilibradora de tudo e de todos, uma Sua divindade que é em si mesma o equilíbrio divino que dá sustentação a tudo que existe, tanto animado quanto inanimado, surgindo o Orixá da Justiça Divina, divindade unigênita porque é o Orixá do Equilíbrio, da Razão e do Juízo Divino.

Deus e justo e tudo o que gera faz com equilíbrio, pois tudo atende a uma vontade Sua, às suas criaturas, espécies e seres. E Xangô, o Orixá da Justiça, independe da nossa vontade para atuar sobre nós porque é em si mesmo essa qualidade equilibradora do nosso Divino Criador.

Xangô, por ser unigênito e ter sido gerado em Deus, é em si mesmo a Justiça Divina que purifica nossos sentimentos com sua irradiação incandescente, abrasadora e consumidora das emotividades.

Mas Xangô, como qualidade Divina, está na própria gênese das coisas como força coesiva que dá sustentação à forma que cada agregado assume, ou seja, Ele está na própria natureza das coisas como o próprio equilíbrio, pois só assim ela não deixa de ser como é. Ele tanto é o ponto de equilíbrio que dá sustentação à estrutura atômica de um átomo como é a força equilibradora do Universo e de tudo o que nele existe, seja animado ou inanimado.

Xangô, por ser uma Divindade gerada em Deus, também gera em si a qualidade na qual foi gerado. Mas ele também gera de si essa sua qualidade equilibradora e a transmite a tudo e a todos.

Quem absorvê-la torna-se racional, ajuizado e ótimo equilibrador, tanto dos que vivem à sua volta como do próprio meio em que vive. Um juiz é um exemplo bem característico dessa qualidade equilibradora irradiada por Xangô, e não importa que o juiz seja um “filho” de outro Orixá, pois a manifestará naturalmente, já que a justiça humana é a concretização da Justiça Divina no plano material.

“Um juiz não consegue dissociar-se da qualidade da justiça, à qual serve com toda a sua capacidade mental e intelectual, mas nunca emotivamente, pois é um racionalista nato”.

Saibam que essa qualidade equilibradora está presente em todos os processos divinos (criação e geração). Por isso, assim que algo alcança seu ponto de equilíbrio, o processo criador ou gerador é paralisado e o que foi criado ou gerado estabiliza-se e adquire uma definição só sua, que o qualificará dalí em diante.

Com isso explicado, então entendemos a importância que tem essa qualidade divina, que na Umbanda a vemos nos procedimentos retos, justos e ajuizados os caboclos de Xangô, Orixá da Justiça Divina, da razão e do equilíbrio. Por isso, quando evocamos a presença dele, só o fazemos se for para devolver o equilíbrio e a razão aos seres com procedimentos desequilibrados e emocionados, ou para clamar pela Justiça Divina, que atuará em nossa vida anulando demandas cármicas, magias negras, etc., devolvendo-nos a paz, harmonia e equilíbrio mental, emocional, racional e até nossa saúde, pois para estarmos saudáveis devemos ficar em equilíbrio vibratório também no corpo físico.

Observem que o equilíbrio proporcionado por Xangô não se limita só a um aspecto de nossa vida, já que ele, enquanto qualidade equilibradora, está em todos.

Xangô é o Orixá de Deus gerador e irradiador do fator equilibrador, mas o limitamos quando deixamos de recorrer ele para ajudar em todos os aspectos e só o fazemos para anular demanda ou impor a Justiça Divina na vida dos seres desequilibrados.

Mas sempre que a Justiça Divina é ativada, tanto seu pólo positivo quanto o negativo são ativados, e aí surge Iansã, Regente da Lei nos campos da Justiça.

Iansã é a Divindade da Lei cuja natureza eólica expande o fogo de Xangô, e assim que o ser é purificado de seus vícios ela entra em sua vida, redirecionando-o e conduzindo-o a outro campo no qual retomará sua evolução.

Saibam que uma das qualidades de Deus é o direcionamento que está presente e ativo em tudo o que ele gera e cria.

É nessa sua qualidade direcionadora de tudo e o que existe, tanto animado quanto inanimado, que ele gerou Iansã.

Então Iansã é unigênita porque é em si mesma essa qualidade do Divino Criador, que a gerou em Si e a tornou essa sua qualidade divina.

Iansã, como qualidade de Deus, está em tudo e todos e é o poder que direciona a fé (Oxalá), a justiça (Xangô), a evolução (Obaluaiê), a geração (Iemanjá), a agregação (Oxum), a lei (Ogum).

Ogum é a Lei, a via reta, mas Iansã é o próprio sentido de direção da Lei, pois ela é um mistério que só entra na vida de um ser caso a direção que este esteja dando à sua evolução e à sua religiosidade não siga a linha reta traçada pela Lei Maior (Ogum).

Por isso ela não depende de nós para atuar em nossa vida. Basta “errarmos” para que sua qualidade divina nos envolva numa de suas espirais, impondo-nos um giro completo e transformador de nossos sentimentos viciados. Com isso ela nos coloca novamente no caminho reto da vida ou nos lança no Tempo, onde nossa religiosidade desvirtuada será paralisada e esgotada em pouco tempo.

Sua atuação é cósmica, ativa, mobilizadora e direcionadora. Mas não é inconseqüente ou emotiva porque ela é o sentido da Lei, que não é apenas punidora, mas também direcionadora.

Xangô paralisa e purifica; Iansã movimenta e direciona.

São Orixás que formam quarta irradiação divina porque suas qualidades e elementos se complementam.

Resumidamente: podemos definir Xangô e Iansã da seguinte forma:

•  Xangô é o fogo que nos purifica de nossos próprios vícios emocionais, reequilibrando-nos.
•  Iansã é o ar que areja nosso emocional e nos proporciona um novo sentido da vida e uma nova direção ou meio de vida.

Xangô

Xangô é o Orixá da Justiça e seu campo preferencial de atuação é razão, despertando nos seres o senso de equilíbrio e eqüidade, já que só conscientizado e despertado para os reais valores da vida a evolução se processa num fluir contínuo.

Comentar sobre o Orixá Xangô é dispensável, pois é muito conhecido dos praticantes da Umbanda. Logo, nos limitamos a comentar alguns de seus aspectos (qualidades, atributos e atribuições).

O Orixá Regente Planetário individualiza-se nos Sete Orixás Essenciais, que se projetam energética, magnética e vibratoriamente, e criam sete linhas de forças ou irradiações bipolarizadas, pois surgem dois pólos diferenciados em positivo e negativo, irradiante e absorvente, ativo e passivo, masculino e feminino, universal e cósmico.

Uma dessas projeções é a do Orixá da Justiça Divina que, ao irradiar-se, cria a linha de forças da Justiça, pontificada por Xangô e Egunitá (divindade natural cósmica do Fogo Divino).

Na linha elemental da Justiça, ígnea por excelência, Xangô e Egunitá são os pólos magnéticos opostos. Por isso eles se polarizam com a linha da Lei, que é eólica por excelência.

Logo, Xangô polariza-se com a eólica Iansã e Egunitá polariza-se com o eólico Ogum, criando duas linhas mistas ou linhas regentes do Ritual de Umbanda Sagrada.

O Orixá Xangô é o orixá natural da Justiça e está assentado no pólo positivo da linha do Fogo Divino, de onde se projeta e faz surgir sete hierarquias naturais de nível intermediário, pontificadas pelos Xangôs regentes dos pólo e níveis vibratórios intermediários da Linha de Forças da Justiça Divina.

Esses sete Xangôs são orixás naturais; são regentes de níveis vibratórios; são multidimensionais e irradiadores das qualidades, dos atributos e das atribuições do Orixá Maior Xangô.

Eles aplicam os aspectos positivos da Justiça Divina nos níveis vibratórios positivos e polarizam-se com os Xangôs cósmicos, que são os aplicadores dos aspectos negativos da Justiça Divina. Como na Umbanda quem lida com os regentes dos aspectos são os Exus e as Pombagiras, então não vamos comentá-los e nos limitaremos aos regentes dos pólos positivos intermediários, que formam suas hierarquias de Orixás Intermediadores, que pontificam, na Umbanda, as linhas de trabalhos espirituais.

Esses Xangôs intermediários, tal como todos os Orixás Intermediários, possuem nomes mantras que não podem ser abertos ao plano material. Muitos os chamam de Xangô da Pedra Branca, Xangô Sete Pedreiras, Xangô dos Raios, Xangô do Tempo, Xangô da Lei, etc. Enfim, são nomes simbólicos para os mistérios regidos pelos orixás Xangôs intermediários. Só que quem usa esses nomes simbólicos não são os regentes dos pólos magnéticos da linha da Justiça, e sim os seus intermediadores, que foram “humanizados” e regem linhas de caboclos que se manifestam no Ritual da Umbanda Sagrada, comandando as linhas de trabalhos de ação e de reação. Eles são os aplicadores “humanos” dos aspectos positivos da justiça divina.

Os sete Xangôs intermediários, regentes dos pólos magnéticos dos níveis vibratórios intermediários, são:
1o. Xangô: é o Xangô da Chama da Fé ou Xangô da Justiça Cristalina. Ele surge a partir do 1o. Pólo magnético, formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética cristalina, regida pelo Orixá Oxalá (Orixá da Fé).
2o. Xangô: é o Xangô da Chama do Amor ou Xangô da Justiça Mineral. Ele surge a partir do 2o. Pólo magnético, formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética mineral, regida pela Orixá Oxum (Orixá do Amor).
3o. Xangô: é o Xangô da Chama do Conhecimento ou Xangô da Justiça Vegetal. Ele surge a partir do 3o. Pólo magnético, formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética vegetal, regida pelo Orixá Oxóssi (Orixá do Conhecimento).
4o. Xangô: é o Xangô da Chama da Justiça ou Xangô da Justiça Ígnea. Ele surge a partir do 4o. Pólo magnético, formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética ígnea, regida pelo Orixá Xangô (Orixá da Justiça).
5o. Xangô: é o Xangô da Chama Flamejante ou Xangô da Justiça Eólica. Ele surge a partir do 5o. Pólo magnético, formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética eólica, regida pelo Orixá Ogum (Orixá da Lei).
6o. Xangô: é o Xangô da Chama da Evolução ou Xangô da Terra. Ele surge a partir do 6o. Pólo magnético, formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética telúrica, regida pelo Orixá Obaluaiê (Orixá da Evolução).
7o. Xangô: é o Xangô da Chama da Geração ou Xangô da Justiça Aquática. Ele surge a partir do 7o. Pólo magnético, formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética aquática, regida pela Orixá Iemanjá (Orixá da Geração).
Esses sete Xangôs naturais são regentes de pólos magnéticos de níveis vibratórios multidimensionais e aplicadores dos aspectos positivos da Justiça Divina. Eles não incorporam, pois são divindades regentes de níveis vibratórios e orixás multidimensionais.

Logo, se alguém disser “eu incorporo o Xangô tal”, com certeza está incorporando o seu Xangô individual, que é um ser natural de 6o. Grau vibratório ou um espírito reintegrado às hierarquias naturais regidas por esses Xangôs. Ninguém incorpora um Xangô de nível intermediário ou qualquer outro orixá dessa magnitude. O máximo que se alcança na incorporação é um orixá de grau intermediador. Mas, no geral, todos incorporam seu orixá individual natural ou um espírito reintegrado às hierarquias naturais e, portanto, um irradiador de um dos aspectos do seu orixá maior.

Temos na Umbanda:
Xangôs da Pedra Preta
Xangôs dos Raios
Xangôs das Pedreiras
Xangôs das Cachoeiras
Xangôs das Sete Montanhas, etc.
Que são, todos eles, Orixás Intermediários e regentes de subníveis vibratórios ou regentes de pólos energético-magnéticos cruzados por muitas correntes eletromagnéticas, nas quais atuam como aplicadores dos mistérios maiores, mas já em pólos localizados em subníveis vibratórios. E todos esses Xangôs intermediadores são regentes de imensas linhas de trabalhos, ação e reação ou não é verdade que temos caboclos da Pedra Branca, da Pedra Preta, das Pedreiras, das Sete Montanhas, do Fogo, dos Raios, etc.?

Meditem muito sobre o que aqui estamos comentando, pois em se tratando de Orixás é preciso conhecê-los a partir da ciência divina ou nos perdemos no abstracionismo e na imaginação humana. Reflitam bastante e depois consultem vossos mentores espirituais acerca do que aqui estamos ensinando, irmãos em Oxalá.

Egunitá

Egunitá é o orixá aplicador da Justiça Divina na vida dos seres racionalmente desequilibrados.

Fogo, eis o mistério de nossa Mãe Egunitá, regente cósmica do Fogo e da Justiça Divina que purifica os excessos emocionais dos seres desequilibrados, desvirtuados e viciados.

Em princípio, devemos alertar que não encontramos um orixá feminino que seja puro fogo e que tenha chegado até nós por uma causa muito simples: as divindades só humanizam os seus aspectos (qualidades, atributos e atribuições) que nos são úteis, dando amparo e estimulando nossa fé.

Egunitá é tida como um dos aspectos de Iansã e está correta essa interpretação... mas com uma observação: Iansã é o ar que alimenta o fogo de Xangô ou o apaga. E Egunitá é o fogo que aquece o ar de Ogum, ou o consome.

Sim, o primeiro elemento de Iansã e Ogum é o ar e o primeiro elemento de Egunitá e Xangô é o fogo. Logo, Egunitá só é um dos aspectos de Iansã quando atua em seu pólo negativo, aéreo e cósmico, para consumir os excessos emocionais dos seres atraídos por ela porque estavam agindo em desacordo com os ditames da Lei.

Nós comentamos que Oyá Tempo é a regente do aspecto negativo que esgota os eguns e os transforma em espectros assustadores. Mas Oyá Tempo pune os religiosos, já que este é seu campo preferencial de atuação. Com Iansã, que atua nos domínios da Lei, o campo e o sentido da vida em que age são outros.

Oyá Tempo atua até no vazio, ou campo atemporal; Iansã atua somente onde existe o ar.

As irradiações de Oyá Tempo obedecem ao seu magnetismo, e mesmo no vazio elas penetram, pois preenchem-no antes com sua energia cristalina.

Afinal, ou entendemos as divindades a partir da ciência ou até o ano 3000 d. C. Ainda estaremos adorando-as somente por meio dos fenômenos da natureza. E não é isso que elas desejam de nós e não foi para isso que deram início à sua renovação pela Umbanda, certo?

Portanto, voltamos a insistir: Egunitá só é uma “Iansã” a partir do seu segundo elemento, que é o ar que alimenta seu fogo cósmico, consumista e anulador dos vícios e consumidor das paixões abrasadoras.

O mesmo recurso dos antigos ordenadores das hierarquias dos orixás foi usado por alguns ordenadores da Umbanda. E se aqueles colocaram Egunitá como uma Iansã porque ela atua no ar, que é o seu segundo elemento, o mesmo os daqui fizeram com a linha de caboclos “Rompe-Matas” ao colocá-los como caboclos de Oxóssi.

Mas o correto é que um caboclo Rompe-Matas tem nas matas seu segundo elemento (vegetal) e seu campo preferencial de atuação, mas o elemento original é o ar, ou o vento, que verga as árvores; rompe as matas fechadas para que o ar penetre nelas com muita facilidade. Logo, ele é um caboclo de Ogum (ar), que atua na irradiação de Oxóssi (vegetal). Portanto, ele não é um caboclo de Oxóssi, mas sim de Ogum, e atua nos campos de Oxóssi abrindo caminhos (Ogum).

Com Egunitá acontece a mesma coisa: ela é fogo que atua na irradiação do ar (Iansã). Mas ela não é o ar, e sim do fogo.

Bem, com isso explicado, vamos comentar nossa amada Mãe Egunitá já a partir do conhecimento superior sobre os Orixás e seus campos de ação.

Egunitá é fogo puro e suas irradiações cósmicas absorvem o ar, pois seu magnetismo é negativo e atrai o elemento com o qual se energiza e se irradia até onde houver ar para dar-lhe essa sustentação energética e elemental.

Como Egunitá (fogo) é feminina, então ela polariza com Ogum (ar), que é masculino e lhe dá a sustentação do elemento que precisa, mas de forma passiva e ordenada. Só assim suas irradiações acontecem de forma ordenada e alcançam apenas o objetivo que ela identificou.

Se ela polarizasse com Iansã, suas energias não seriam irradiadas porque aconteceria uma propagação delas na forma de labaredas, já que as duas são de magnetismos e elemento feminino. Eis aí a chave das polarizações, que obedecem a uma ordenação das irradiações por magnetismos.

Até nisso nós vemos a perfeição do Criador, pois o fogo feminino de Egunitá se espalharia pelo elemento eólico de Iansã e assumiria proporções alarmantes. Mas ao se polarizar com Ogum, e se ela, enquanto divindade natural, absorver muito das irradiações eólicas dele, irá se resfriar e será anulada em seu próprio elemento.

O inverso acontece com Ogum, que é passivo e só se torna ativo em seu segundo elemento, o que o alimenta, aquecendo-o e energizando suas irradiações. Ogum, como guardião da Lei, atua nos campos da Justiça como aplicador das sentenças.

Logo, se Ogum absorver o fogo de Xangô, que também é passivo em seu magnetismo, esse fogo só irá consumir o ar de Ogum e não irá gerar a energia ígnea que fluiria como calor pelas irradiações retas do seu magnetismo, que é passivo.

Ogum é passivo no magnetismo eólico e ativo em seu segundo elemento, que é o fogo que energiza (aquece) o ar.

Ogum irradia em linha reta (irradiação contínua).

Xangô irradia em linha reta (irradiação contínua).

Iansã irradia em espirais (irradiação circular).

Egunitá irradia por propagação (irradiação propagada).

Xangô polariza com Iansã e suas irradiações passivas se tornam ativas no ar (raios); Egunitá polariza com Ogum e suas irradiações por propagação magnética assumem a forma de fachos flamejantes.

Observem que a Lei e a Justiça são inseparáveis e para comentarmos Egunitá temos que envolver Ogum, Xangô e Iansã, que são os outros três orixás que também se polarizam e criam campos específicos de duas das sete linha de Umbanda. Ela é cósmica (negativa) e seu primeiro elemento é o fogo, que se polariza com seu segundo elemento, que é o ar. Portanto, como o fogo é o elemento da linha da Justiça, ela é uma divindade que aplica a Justiça Divina na vida dos seres.

E porque o ar é seu segundo elemento, que a alimenta e energiza e é o elemento da linha da Lei, ela é uma divindade que aplica a justiça como agente ativa da Lei e consome os vícios emocionais e os desequilíbrios mentais dos seres. Os vícios emocionais tornam os seres insensíveis à dor alheia. Os desequilíbrios mentais os transformam em tormentos para seus semelhantes.

A Orixá Egunitá, como irradiadora da chama cósmica e purificadora da Justiça Divina, atua sobre os seres movidos por paixões avassaladoras e os incandesce até um ponto em que começam a consumir a si próprios. Quanto aos desequilibrados mentais, Egunitá retira todo o calor (energia ígnea) do corpo energético do ser e ele se resfria de imediato, tornando-se frio e escuro (egun).

Mas os eguns paralisados por Egunitá não são os do Tempo, pois trasnformam-se em espíritos sofredores sem chegar ao grau de espectros totalmente vazios. Egunitá retira deles apenas calor e os deixa com um frio paralisante, enquanto Oyá tempo retira deles todas as energias e os deixa vazios.

Enfim, cada orixá atua de uma forma e é responsável por um dos aspectos da vida dos seres. Uns atuam nos aspectos da Fé, outros nos aspectos do Conhecimento, outros nos da Lei e outros da Justiça, etc.

Mas, aqui, estamos descrevendo os aspectos mais internos ou ocultos dos Sagrados Orixás. E não o fazemos a partir das lendas sobre eles, transmitidas oralmente de pai para filho, naquilo que constitui o saber mítico possível de ser conservado no decorrer do tempo.

Pesquisando livros de vários autores, importantíssimos para o entendimento dos orixás, só encontramos Egunitá sendo descrita como uma das qualidades de Iansã.

Aqui, não vamos questionar algo que tem sido útil durante milênios, mas sim separar uma Divindade do Fogo (Egunitá) de uma Divindade do Ar (Iansã) e descrevê-la segundo a Ciência Divina dos Orixás, que nos revela ela ígnea e se expandindo (irradiando sua energia) pelo elemento ar (energia eólica).

Egunitá tem toda uma forma de ser cultuada, oferendada e firmada.
Deve ser cultuada a partir da sua natureza justiceira (ígnea).
Deve ser oferendada individualmente.
Deve ser firmada em elementos da natureza associados ao fogo, inclusive a cor da sua vela votiva é laranja (em substituição a sua cor dourada).
Suas frutas são: laranja, abacaxi, uva, caqui, tamarindo, etc., e todas as frutas ácidas, sempre depositadas sobre um pano dourado ou alaranjado, que deve ser circulado com velas de cor laranja e vermelha...

Eu mesmo recorro muito à minha mãe do fogo divino, a nossa Orixá Egunitá, quando preciso cortar magias negras, consumir energias negativas em lares ou com as pessoas que atendo e mesmo para cortar atuações de eguns. E sempre ela responde imediatamente e de forma fulminante.

Seu fogo consumidor dos vícios e dos negativismos é temidíssimo pelos seres que habitam nas faixas vibratórias negativas, pois ele se alimenta das energias negativas que eles geram e irradiam.

Entendam que se em uma linha ar e fogo se polarizam para aplicar a Lei (Ogum-Egunitá) e em outra fogo e ar (Xangô-Iansã) se polarizam para aplicar a Justiça, é porque tanto o fogo e o ar quanto a Justiça e a Lei não são antagônicos e sim complementares. O fogo, em verdade, não consome ou anula o ar, mas tão somente o expande ou o faz refluir.

A justiça não anula a Lei, mas sim dota-a de recursos legais (jurídicos) para que possa agir com mais desenvoltura. E a Lei não anula a Justiça, mas sim dota-a com recursos para que possa se impor onde injustiças estejam sendo cometidas.

Fogo e Ar - Justiça e Lei, eis aí dois elementos que se complementam e duas linhas de Umbanda que são indissociáveis.

No elemento fogo puro ou elemental, Egunitá está assentada em seu pólo negativo, não irradiante, atraente e devorador dos vícios e desequilíbrios energéticos.

Já na linha de forças da Lei, regida por Ogum, ela se mostra como o fogo misto (areado). E, assentada em seu pólo negativo, consome os vícios emocionais e os desequilíbrios mentais surgidos após o ser desvirtuar os princípios da Lei, que são de natureza aérea. E se o ar que anima os princípios puros na vida do ser (Lei) tornou-se viciado (distorcido), então será Egunitá (o fogo que devora) que irá consumir todos os vícios e paralisá-lo (ar) até que novo ar puro (novos princípios) volte a arejar sua vida.

As divindades têm uma função a realizar e nós sempre seremos beneficiários e sua atuação. Quando nos paralisam, também estão nos ajudando, pois evitam que continuemos trilhando um caminho que nos conduzirá a um ponto sem retorno.

Retirado do Livro: Orixás - Teogonia de Umbanda - Rubens Saraceni - Editora Madras 

Solange Christtine Ventura
www.curaeascensao.com.br