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Alenda do Rei Arthur e dos cavaleiros da Távola Redonda
parte 2
Cavaleiros da Távola Redonda  -  Mudanças na Lenda

Dois famosos escritores do século XII mudaram o tratamento celta dado à história de Arthur. Essa mudança ocorreu de uma maneira muito súbita. No trabalho destes escritores, Arthur será a figura de menor importância, já que os principais personagens seriam os cavaleiros de sua corte. Nos duzentos anos a seguir, a figura de Arthur seria usada apenas como ponto de referência. Estes escritores foram Maria da França, com uma recontagem da história de Tristão e Isolda, e Chrétien de Troyes, que com o amour courtois centrou a história em Lancelot e Guinevere.
Os cavaleiros e suas Lendas  

Dentre os inúmeros cavaleiros de Arthur, ou relacionados a ele, os que tiveram maior destaque são os relacionados abaixo:

Gareth e Lineth

A hitória de Gareth é mostrada no livro de Malory, The Book of Gareth, do qual nenhum original foi encontrado, apesar de se supor que haja uma fonte francesa perdida. O herói Gareth é um jovem de físico e força excepcionais. Ele vem à corte de Arthur, onde não é reconhecido nem por seu tio Arthur, nem por Gawain, seu irmão. Por alguma razão perversa começa trabalhar na cozinha de Arthur, onde Sir Kay, o dispenseiro, o trata mal e por causa de suas mãos grandes dá-lhe o apelido de Beaumains (Belas Mãos em francês). Todos riem dele, exceto Lancelot, que é gentil com ele desde o início.

O rapaz interessa-se apaixonadamente pela cavalaria e, embora executando seus deveres de lavador de pratos, faz questão de assistir a todas as exibições de habilidade dos cavaleiros. Por fim, acaba com a subserviência, veste a armadura que sua mãe tinha mandado fazer para ele já há algum tempo e desafia Lancelot. Este fica impressionado com a sua força e antes de ser derrotado, os dois param. A gentileza e a clemência do jovem são reprovadas por Lineth, moça arrogante que desdenha a indicação de Beaumains para salvar a sua irmã aprisionada, a dama de Lionesse, pois pensa que é um mero criado de cozinha. Seu comportamento é irracionalmente descortês e ingrato até que suas injúrias e seu escárnio são refreados pelo contínuo sucesso do rapaz contra os adversários da sua irmã. "Ai de mim, diz ela, belo Beaumains, perdoa-me tudo que eu disse ou fiz de mal contra ti. De todo o meu coração, diz ele, eu te perdôo, pois não fizestes nada de mais, todas as suas palavras malvadas me agradavam... e como estás se desculpando espontaneamente, eu te quero bem... não há cavaleiro vivo que eu não seja capaz de combater." No entanto, ele se apaixona, sim, mas é pela irmã dela, a dama de Lionesse. Leva-a para a corte de Arthur e casam-se. Linet, curada de sua raiva patológica, está casada com outro cavaleiro.

Modred  

Modred era filho de Arthur com sua irmã, Morgana. Em escritos antigos, ele é muitas vezes identificado como Anwr. Em Malory, Merlin avisa Arthur que ele seria morto por alguém nascido no dia primeiro de maio, assim, Arthur ordena que todos os bebês nascidos nesse dia, fecundados por lordes e gerados por damas, fossem colocados em um navio e levados para o mar. O navio naufraga e todos os bebês se afogam, menos Modred, que, carregado para praia, foi encontrado por um homem de bom coração que tomou conta do bebê. Mais tarde, Modred vai para corte de Arthur onde, juntamente com seu irmão Agravaine, passa a fomentar a discórdia. Por fim passam a vigiar Lancelot e Guinevere, acabando por pegar Lancelot nu na cama da rainha. Lancelot consegui fugir, matando um do bando de Modred. Quando Arthur parte para a França para lutar contra Lancelot, Modred é deixado como regente. Aproveita a oportunidade para Capturar Guinevere e tentar se casar com ela a força, tomando a coroa. Arthur retorna à Bretanha e luta contra o filho, culminando na batalha de Camlann, onde Arthur corre atrás de Modred e o atravessa com sua lança, em seguida Modred golpeia o pai, segurando a espada com ambas as mãos, ao lado de sua cabeça. Modred cai morto e Arthur deita-se abatido no chão.

Balin e Balan

Balin e Balan é um conto mórbido escrito por Malory, onde os gêmeos Balin e Balan, irmãos de Lancelot por parte de pai, se encontram em uma floresta mas, estando os dois armados e sem brasões em seus escudos, não se reconhecem e passam a lutar, acabando por se matarem.  

Yvain

Yvain é um conto de Chrétien de Troyes, baseado no conto galês The Lady of the Fountain (A Dama da Fonte). Yvain sai da corte de Arthur para uma aventura na floresta de Brocelinde, onde quem quer entrasse em uma certa clareira e quebrasse com um golpe um bloco de esmeralda ali pendurado criaria uma tempestade, quando então viria um cavaleiro para desafiá-lo. Yvain mata o cavaleiro e conquista a sua viúva. Quando estão para se casar, Arthur chega para saber como a aventura havia transcorrido.

Kay

Kay era o irmão adotivo de Arthur, tornando-se o mordomo real depois que Arthur se torna rei. Ferido em batalha, Kay era coxo, o que não impedia de ter algumas aventuras, nem sempre bem sucedidas, como a narrada por Chrétien de Troyes, na qual Arthur e alguns de seus cavaleiros vão procurar Sir Kay, que empreende uma aventura. "Quando eles se aproximam da floresta, vêem o cavalo de Kay fugindo... O cavalo fugindo desesperadamente, as correias do estribo de couro todas manchadas de sangue e a armação da sela quebrada".

Urre

Sir Urre era casado com Morgana, sendo muito mais velho que esta. Uma passagem importante envolvendo este personagem é dada quando este está ferido, não conseguindo sarar. Sir Urre é então levado à corte de Arthur para ver ser alguém ali podia exercer o poder de cura. A começar por Arthur, um enorme grupo de cavaleiros tenta sem sucesso. Por fim Lancelot é visto cavalgando à distância. Quando este se apresenta, Arthur explica o assunto e diz que ele também deveria fazer uma tentativa. "Jesus me proteja, diz Lancelot, quando tantos reis e cavaleiros já tentaram e fracassaram, como poderia eu ter a presunção de realizar o que os senhores não realizaram... Estás vendo de modo errado, disse o rei Arthur, não deves fazer isso por presunção, mas para demonstrar tua camaradagem conosco, pois és também um cavaleiro da Távola Redonda." Lancelot, a contragosto, ajoelhou-se aos pés do cavaleiro ferido "dizendo secretamente para si mesmo: Tu, Pai Abençoado, Filho e Espírito Santo, eu te imploro teu perdão... Tu és o único que podes curar este cavaleiro doente por meio de tua grande virtude... mas, bom senhor, nunca por mérito de minha pessoa." Então pede ao cavaleiro para deixá-lo ver as feridas; examina-as e, depois de sangrarem um pouco, elas aparecem curadas, como se estivessem há sete anos cicatrizadas.  

Bedivere e Lucan  

Sir Lucan e Sir Bedivere foram uns dos poucos cavaleiros de Arthur que sobreviveram à Batalha de Camlann. Quando caiu a noite no campo de batalha, Lucan diz que é melhor levar o rei para alguma cidade. "Eu gostaria que fosse assim, disse o rei, mas não posso ficar de pé, e minha cabeça não pode se mover." Então eles começam a carregar o rei, mas na tentativa, Sir Lucan cai morto. Arthur, sozinho com Bedivere, encarrega-o de levar a sua espada, Excalibur, para além da margem do rio e, assim que voltasse, contasse o que tinha visto. Bedivere toma a espada e dirige-se para a água, mas no caminho observa aquela nobre espada e vê que o botão do punho e o cabo eram de pedras preciosas, e sente que não pode sacrificá-la. Por duas vezes tenta atirá-la, mas não consegue, e Arthur percebe a desobediência de Bedivere quando ele conta que viu apenas ondas inquietas e águas tristes. Ordenado de novo a jogar a espada no rio, Bedivere atende às ordens, lançando a espada o mais longe possível, veio um braço e por cima da água uma mão alcançou a espada e a pegou. Assim, sacudiu a espada por três vezes, brandiu-a e então mão e espada desapareceram. Depois de ter cumprido a tarefa, Bedivere leva o rei nas costas até a beira da água, lá uma barca aporta com muitas senhoras, dentre uma das quais uma rainha, Morgana, o rei é colocado na barca e parte para Avalon.  

Sir Lancelot do Lago (O Herói Armagurado )

O personagem Lancelot, como membro especial da confraria de Arthur, já era bem conhecido no século XII, e Loomis constatou que havia vestígios de sua origem no guerreiro galês Lluch Llauynnauc e na divindade irlandesa Lugh Lamhfada. No entanto é atribuída ao escritor suíço Ulrich von Zatzikhoven, na última década do século XII, a origem do nome Lancelot do Lago, retirado da tradução de um romance anglo-saxão extraviado.

Lancelot era filho do rei Ban de Benoic, distrito da Britânia. Com a morte do pai, Lancelot foi levado pela Dama do Lago para seu palácio sub-aquático. Quando Lancelot completa quinze anos, sua mãe adotiva o equipa e manda-o para a corte de Arthur. Ele luta em favor de Guinevere, mas não há nenhum adultério entre eles. 

Lancelot tem namoros casuais e por fim, casa-se com uma esposa amável e fiel. O primeiro a escrever sobre Lancelot ser amante de Guinevere foi Chrétien de Troyes, que dizia que a história estava sendo ditada pela condessa de Champanhe, que também ditava o estilo. 

No início da história, Meleagant, um cavaleiro infiel, prende muitos dos súditos de Arthur em Goirre, terra rodeada de água. Por fim, Meleagant captura Guinevere. Lancelot luta por sua rainha e no final, em um combate solitário, consegue a libertação dela e de todos os outros reféns. A história se parece com a que é contada por Caradoc de Lancafarn em Life of Saint Gildas, trabalho escrito antes de 1130, que relata que Guinevere teria sido capturada por Melvas (transfornado em Melleagant por Chrétien) e levada para a Ilha de Vidro (chrétien leu Goirre em vez de Voirre). Arthur com um grande exército recrutado em Devon e na Cornualha sitia Melvas e salva Guinevere. 

Na versão de Chrétien, ele trocou Arthur por Lancelot. Arthur é apresentado como um homem de boa índole, benevolente, mas ineficaz, o que reduz drasticamente o seu poder. Isto se deve ao fato que a corte de Champanhe, onde Chrétien escreveu sua história, não estava interessada em atos heróicos contra bárbaros na Inglaterra, mas sim na vida que estava na moda, na qual o rei Arthur necessariamente fazia o papel de marido traído. A traição de Lancelot e Guinevere é permissível, sem arrependimento entre os dois, é somente em Lancelot, do Ciclo Popular ou Ciclo Bretão, que Guinevere exclama: "Teria sido melhor para mim se eu nunca tivesse nascido". Foi aí, com Malory, que Lancelot foi chamado de o primeiro herói do romance moderno.

Lancelot é um homem de grandes virtudes pessoais e profissionais, sem forças para resistir a uma paixão que por um longo tempo acredita ser mais ou menos incorreta e que, por fim, aceita ser complemente errada. Ele tem inimigos: alguns têm ciúmes, outros ficam indignado com a sua ligação com a rainha e é isso que acabará levando à guerra civil. Mas muitos o amam, não somente Guinevere o ama, mas Arthur o ama também; não somente a donzela de Astolat, mas o irmão dela, Lavaine; os cavaleiros devotados a ele sentem uma admiração e uma forte afeição pessoal. Apesar de não poder ver o Graal por causa do adultério, Lancelot apresenta grande caráter moral tanto no episódio com Sir Urre quanto no da Donzela de Astolat. Lancelot vai competir em um torneio disfarçado, assim, para desviar as suspeitas, aceita uma prenda de Elaine. Vitorioso, mas ferido, é levado por Lavaine para um eremitério para ser curado. Gawain, sabendo da verdadeira identidade do cavaleiro, o revela para Elaine, que cuidava dia e noite dele. Bors vai ao encontro de Lancelot, ansioso e constrangido por tê-lo ferido, e pergunta: "Mas é Elaine que está interessada em você?". "É ela. Não posso afastá-la de mim" - diz Lancelot. "E por que deveria afastá-la? É uma bela donzela, de boa aparência e bem instruída, e vejo, pelos cuidados dela para com você, que ela o ama muito". A resposta de Lancelot é agourenta: "Isso me deixa arrependido." Quando está curado e pronto para partir, Elaine o pede por marido e ele diz que prometera nunca ser casado. Ela então pede para ser sua amante, ao que ele fica horrorizado e diz que nunca poderia fazer tal maldade com quem o tinha tratado tão bem. Ela diz então que nada resta senão morrer de amor. Para evitar isso, Lancelot promete a ela um dote de mil libras por ano e mais qualquer cavaleiro que ela escolha para se casar. Ele recusa todas as propostas, pois o que quer é ser somente sua esposa ou sua amante. "Bela donzela, por essas duas coisas tens de me perdoar" - respondeu Lancelot. Assim ela gritou e desmaiou. Durante nove dias, Elaine não comeu, bebeu ou dormiu. No décimo dia ela morreu. A carta que pedira para escrever para Lancelot estava em suas mãos e ela foi colocada em uma barca recoberta de tecido negro que desce até Winchester. Na carta estava escrito: "Nobre cavaleiro, Sir Lancelot, agora é com morte que eu disputo o teu amor. Os homens me chamavam de Bela Donzela de Astolat, mas eu te amava, e por esta razão a todas as damas faço meu lamento. Rezem por minha alma e por fim me enterrem. Este é meu último pedido. E tomo Deus por testemunha de que como donzela casta morri. Sir Lancelot, reza por minha alma, pois tu és sem igual."

Mas o romance entre Lancelot e Guinevere não poderia ficar para sempre ignorado. Modred e seu irmão Agravaine passam a vigiá-lo e por fim encontram Lancelot desarmado na cama da rainha. Lancelot mata o primeiro do bando que o ataca e foge. A rainha é condenada à fogueira. É fora dos muros de Carlisle que Lancelot salva a rainha, já despida, só de camisola, prestes a ser levada para o poste. Corpo a corpo ele vai abrindo caminho e, sem saber, mata Sir Gaheris e Sir Gareth, irmãos do vingativo Sir Gawain. Ele leva a rainha para seu castelo de Joyous Garde, para onde partem Arthur e Gawain em seu encalço. A disputa é resolvida por um combate entre Gawain e Lancelot, com vitória de Lancelot. Neste meio tempo, Modred havia raptado a rainha e planejava casar-se com ela e tornar-se rei. Arthur parte então para lutar contra Modred, morrendo os dois no confronto. Guinevere, arrependida, entra para um convento e Lancelot também entra para uma ordem, onde, depois da morte de Guinevere, definha aos poucos até morrer.

Sir Gawain ( O Cavaleiro Vingativo )

Sir Gawain é muitas vezes descrito como sendo sobrinho de Arthur, filho de Morgause e irmão de Sir Gaheris e Sir Gareth. Possuia um comportamento muito irritadiço, como pode-se constatar em Layamon, que, quando Arthur descobre a traição de Modred e Guinevere, Gawain declara que vai enforcar Modred com suas próprias mãos e que Guinevere deve ser despedaçada por cavalos selvagens. Outra passagem, descrita por Malory, onde se pode visualizar o caráter vingativo de Gawain, é mostrada quando do cerco ao castelo de Lancelot. Lancelot, que durante a fuga com a rainha mata Gaheris e Gareth, afirma que a acusação de traição contra ele é falsa e que o julgamento por combate havia mostrado que ele estava certo. Arthur poderia até perdoá-lo, mas Gawain não deixa que isso ocorra. O clímax da história é a luta entre Gawain e Lancelot. A luta é interessante, pois mostra vestígios de uma história muito antiga. Gawain tem uma peculiaridade que lhe permite ganhar força física no período que vai das nove da manhã até ao meio-dia. Malory diz que isso era um presente de um homem santo, mas é claro que, originalmente, Gawain era um adorador do deus-sol. A despeito desta vantagem, Lancelot simplesmente resiste nas horas de força de Gawain e, quando elas declinam, lança-o à terra. Por duas vezes essa luta sobrenatural acontece e a cada vez que Gawain é jogado no chão, chama Lancelot para continuar a luta. Lancelot responde que quer lutar com ele de novo, mas só quando estiver de pé. 

O conto mais famoso de Sir Gawain, no entanto, é intitulado Sir Gawain and the Green Knight, escrito por volta do ano 1400. No dia do Ano-Novo, quando o rei, a rainha e a corte estão reunidos para um jantar, um cavaleiro de tamanho incomum entra no casarão com seu cavalo. Pede que algum cavaleiro ali presente lhe dê um golpe no pescoço com o machado que ele carrega e que, no próximo Ano-Novo, o oponente esteja na Capela Verde para receber, por sua vez, o seu golpe. O cavaleiro e suas roupas, assim como seu cavalo, os trajes e os arreios, tudo era verde. O ouro e o aço estavam manchados de verde, os arreios reluziam e cintilavam com pedras verdes e filetes de ouro estavam entrelaçados na crina verde do cavalo. Arthur imediatamente se oferece para o desafio do cavaleiro, mas Gawain se interpõe e o toma para si. Com um golpe de machado, decepa a cabeça do cavaleiro que rola pelo chão, espalhando sangue na carne verde. O cavaleiro verde recolhe a cabeça. Levanta as pálpebras, olha vivamente e então encarrega Sir Gawain de encontrá-lo naquele dia, após um ano, na Capela Verde. Segurando a cabeça pelos cabelos verdes, monta em seu cavalo e deixa o casarão. Um ano depois, para manter a palavra, Gawain chega ao castelo de Sir Bertilak, anfitrião cordial e generoso que, por ter cor normal, não é reconhecido como sendo o cavaleiro verde. Gawain chega ao castelo em completo estado de exaustão. Recebido com hospitalidade, envolvido em um manto de arminhos enfileirados, é convidado a sentar ao lado de uma lareira com brasas de carvão. Quando Sir Bertilak retorna ao seu castelo, depois da caça, recebe o hóspede com muita cortesia e combina com ele que daria o produto de sua caça a Gawain todo dia e, em troca, Gawain lhe daria algo que tivesse recebido no castelo.

Durante a sua estada no castelo, Gawain recebe de manhã, antes de sair da cama, a visita da bela mulher de Bertilak, se vendo obrigado a resistir às suas investidas. Por dois dias assim o faz, aceitando somente beijos que, à noite, transmite a Sir Bertilak em troca da caça. Na terceira manhã, porém, a senhora o oferece um cordão verde que o protegerá de qualquer ferimento, o medo de sua provação faz com que o aceite, mas esconde o fato de seu anfitrião. Quando chega o dia do Ano Novo, para honrar seu compromisso, ele sai em busca da Capela Verde. Achando o local, o Cavaleiro Verde aparece para devolver o golpe de Gawain. Se ele não tivesse aceitado o cordão verde, o machado teria caído sobre ele inofensivamente, mas, como isso não aconteceu, o machado esfola sua pele e seu sangue jorra. Agora revela-se que o Cavaleiro Verde é o próprio Sir Bertilak, que havia sido enfeitiçado pela irmã de Arthur, a fada Morgana. Depois de trocarem muitas cortesias, Gawain parte e retorna à corte de Arthur, a quem confessa sua pequenez por ter aceitado o cordão.  

Persival e Galahad ( A Demanda pelo Santo Graal )


As histórias de Galahad e de Persival estão intimamente ligadas ao Santo Graal.

Galahad era filho de Lancelot com Elaine e, por sua pureza, era o único cavaleiro que poderia se sentar na "cadeira perigosa", um assento que sempre ficava vazio na Távola Redonda e que se dizia que apenas um escolhido poderia se sentar nela.

Galahad chega então despido de qualquer arma ou brasão, apenas com uma túnica branca, e, durante a história, ele vai se armando com armas mágicas como uma espada que se encontrava encravada em uma pedra que flutuava no meio do lago.

Durante a busca pelo Santo Graal, Lancelot apenas poderia vislumbrar o brilho do Graal, por ser o melhor cavaleiro do mundo, mas manchado pelo adultério, já Galahad, por ser puro de coração é permitido que ele não só veja o Graal como também o pegue, mas isso causa a sua morte e ele é levado aos céus pelos anjos.

Percival também foi um cavaleiro altamente envolvido com a busca pelo Graal.

Na obra inacaba Perceval ou Le conte del Graal de Chrétien de Troyes tem-se a primeira aparição de Persival.

A mãe de Percival, que tinha perdido os irmãos e o marido em torneios de cavalaria, tinha jurado levar seu filho, ainda criança, para um refúgio em uma floresta nos contrafortes de Snowdon, onde ele nunca ouviria a palavra "cavaleiro". Em uma manhã de maio, o menino está no meio da floresta e, embora não possa ver nada por causa das folhas, ouve o ruído da aproximação de cinco cavaleiros, quando ele viu suas cotas brilhantes, seus capacetes, escudos e lanças reluzentes - coisas que nunca tinha visto antes - , e a luminosidade verde e rubro-escarlate brilhando ao sol, e ouro, azul-celeste e prata, gritou maravilhado: "São anjos!" Todas as preocupações de sua mãe se frustam em um único momento. Quando ele ouve que tais pessoas eram cavaleiros e que estavam ligados à corte de Arthur, declara que irá com eles ao rei que faz cavaleiros.

Quando jovem cavaleiro, Percival é guiado a um rio onde vê um homem pescando.

Este é o Rei Pescador. E então convidou-o para entrar em seu castelo, localizado acima da margem do rio. Quando chega, seu anfitrião está deitado, defronte a ele, em um leito do qual não pode mover-se sem ajuda. O rei fora ferido entre as pernas e, enquanto as feridas não sarassem, suas terras permaneceriam áridas e estéreis. O rei Pescador é um anfitrião cortês e generoso. Enquanto ele e seu hóspede estão jantando, um desfile ritual abre caminho pelo salão: uma donzela leva um prato, em seguida outra donzela carrega um prato entalhado acompanhada por um escudeiro que segura uma lança sangrando, e atrás deste passam criados carregando candelabros. Eles estão indo alimentar o pai do rei Pescador, que é invisível e mantido vivo com uma hóstia consagrada, levada pela donzela em um dos pratos.

O Graal ficava no castelo e era carregado por uma donzela e espalhava tamanha luminosidade pelo salão que ofuscava todas as luzes da sala. Durante o desfile, Percival deveria ter perguntado: "Quem é servido com este Graal?". O erro de Percival resultou não só na continuidade da doença do rei Pescador, mas também na deterioração geral da sociedade.

Depois da batalha de Camlann, Percival torna-se um monge juntamente com Lancelot. 

Sir Tristão de Lionesse ( O Cavaleiro Poeta )


Rica é a bibliografia de Tristão e Isolda. Além de figurarem em escritos celtas antigos, os chamados mabinogions (porque eram destinados à educação do mabinog, ou discípulo do bardo) e em narrativas populares anônimas, como Folie Tristan, Luite Tristan e Tristan Moine, inspiraram uma vasta literatura em francês, inglês, alemão, italiano, espanhol e português.

O nome do pai de Isolda, Gormond, é escandinavo, e ela mesma aparece às vezes como "Isolt". Acrescente ao fato dela ser loura (la Blonde). Donde a idéia de que a história remonte ao tempo dos vikings na Irlanda. No entanto, segundo a maioria dos autores, a lenda é celta e tem por base a vida de um rei picto que viveu na Escócia, onde reinou de 780 a 785. Chamava-se Drest filius Talorgen. O Livro Vermelho de Oxford alude a um certo Drystan ab Tallwch, amante de "Essylt", mulher de "Marc". "Tristan" proviria então de "Drest", "Drystan", "Drust", "Drustan". Em português, impunha-se Iseu ao invés de Isolda, forma alemã popularizada por Wagner, como pode-se ver pelo Cancioneiro da Vaticana, de D. Dinis: o mui namorado Tristan sey ben que non amou Iseu quant eu vos amo.... Já Jorge Ferreira de Vasconcelos usa "Iseo", com "o", em Memórias das proezas da segunda Távola Redonda, Lisboa, 1567, capítulo XLII: "... de dom Tristam de Leonis e da sua amada Iseo..."

A popularidade da história de Tristão e Isolda foi conseguida graças a Maria da França, uma mulher de quem pouco se sabe, que escrevia lais, versos sobre histórias de cavalaria já conhecidas ou que ainda corriam entre os contadores de história.

Seus versos intitulam-se Chèvre Feuille (A Madressilva). Esse conto, conhecido desde o ano 1000, é de origem puramente celta, sem conexão com Arthur. A história passa-se na Cornualha, onde Marco é rei, mas o magnetismo causado pelo nome de Arthur fez com que essa história se prendesse também ao corpo da lenda. Tristão não era famoso por sua habilidade como lutador, mas tinha grande agilidade física. Era também um harpista. A história de Tristão é marcada por tragédias, dizia-se que ele nunca foi visto sorrindo, a começar por seu nascimento, onde seu pai é morto em batalha, perdendo o reino de Lionesse, e sua mãe morre no parto. Graças a estas tragédias, ele recebe o nome de Tristão. Criado por um cavaleiro como se fosse seu filho, Tristão desconhece sua origem e de seu parentesco com Marco, seu tio. Ainda criança, Tristão mata por acidente um outro menino durante uma rixa. Levado para Bretanha a fim de ter uma educação de cavaleiro e um dia recuperar seu trono, tristão acaba preso em um navio muçulmano, onde seria vendido por escravos, se não tivesse conseguido fugir, indo parar nas costas da Cornualha. Durante muito tempo permanece na corte do rei Marco, sem revelar a este que era seu sobrinho, o que ocorre quando a Irlanda cobra um antigo tributo da Cornualha que, se não fosse pago, só poderia ser substituído pela luta entre dois campeões da família real da Irlanda e Cornualha. Tristão se oferece e parte para lutar contra Morolt, matando-o quando este prende a espada no casco do barco. Ferido pela espada envenenada de Morolt, Tristão é colocado em um barco sem remos com sua harpa para ser curado pela rainha da Irlanda. Durante sua permanência disfarçado, com o nome de Tãotris, acaba se apaixonando pela princesa Isolda, que cuidava dele. Mas Isolda acaba prometida a Marco e Tristão retorna à Irlanda para buscá-la. Na viagem de volta, no entanto, eles bebem um filtro de amor que a criada de Isolda, Brangwen, havia preparado para a noite de núpcias da princesa, com isso uma paixão cega toma conta deles, de tal forma que, quando chegam à Cornualha, já são amantes. Começa então o mórbido mas interessante relato do casamento de Isolda com o já desconfiado Marco e a continuação de sua aventura com Tristão. Segue-se então a descoberta e a fuga de Tristão para a Britânia, onde se casa com uma princesa só porque seu nome também era Isolda (ISolda das Mãos Brancas), não podendo consumar o casamento. Quando está prestes a morrer de uma infecção causada por uma seta envenenada, Tristão manda uma mensagem, implorando que Isolda da Irlanda viesse até ele, e ordena que, no retorno do barco, deveriam estender velas brancas se a trouxessem e negras se ela não viesse. Quando as velas brancas são vistas se aproximando, sua esposa Isolda diz que elas são negras. Angustiado, Tristão morre, e Isolda chega, para morrer ao lado dele.      

Fatos e Mitos  -  Os Anais da Páscoa

A história do Rei Arthur e seus cavaleiros é realmente apaixonante, tanto que no século XII ainda havia derramamento de sangue de bretões e ingleses, sendo que os primeiros lutavam em nome de Arthur. Mas quem foi Arthur? Ele realmente existiu? Se existiu, por que toda sua história está envolta em lendas e sem conteúdo histórico?

O mais empolgante é descobrir que Arthur realmente existiu. Como a Páscoa é uma festa móvel, era necessário fazer cálculos para saber quando cairiam as próximas festas, nos anos seguintes. Essas tabelas de cálculos, existentes em várias abadias, eram chamadas de Tabelas da Páscoa. Eram organizadas em colunas, sendo que a coluna da mão direita era deixada em branco. Nela eram anotados os eventos de importância relevante. Os itens desta coluna eram chamados de Anais de Páscoa.

É comumente aceito que a data do manuscrito que continha os anais é consideravelmente mais velha que os eventos anotados nela; mas os especialistas concordam que, quando novas tabelas de cálculo eram feitas, os principais eventos das tabelas anteriores eram transcritos para as mais novas. No Museu Britânico há um maço de documentos conhecidos como Historical Miscellany (Coletânea histórica) que contém um conjunto de tabelas de Páscoa. Em suas colunas de anais ocorrem dois registros: O primeiro tem sua data discutida, já que o copista teria datado os registros a partir do ano em que se iniciaram os anais, que pode ser 499 ou 518 d.C. Está escrito: "Batalha de Badon, na qual Arthur carregou nos ombros a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por três dias e três noites, e os bretões foram vitoriosos". No segundo registro de 539, lê-se: "Batalha de Camlann, na qual Arthur e Modred morreram. E houve pragas na Bretanha e Irlanda". O argumento que mais demonstra se tratar de uma evidência histórica é que também Gildas mencionou a Batalha do Monte Badon, cuja ocorrência registrou a mesma data do seu nascimento, descrevendo-a como "a última matança do inimigo, depois do que, durante toda a sua vida, teria sido refreado o avanço saxônico no sudeste e no sudoeste". Além disso, em uma conhecida história marcada por ausência de nomes próprios, Gildas, apesar de não falar no nome de Arthur, cita o nome da batalha, atribuindo-lhe importância singular.

Os anais dizem que Arthur lutou por três dias e três noites, o que é verossímil, pois Gildas chamou essa batalha de cerco obsessio Badonici. O fato de Arthur ter carregado a cruz nos ombros explica-se pela possível troca de palavras shield (escudo) por shoulder (ombros). A localização da colina chamada Badon é controvertida, mas supõe-se que deva estar localizada além de Kent e Essex, na rota do avanço saxônico.

É a partir desta batalha que a penetração anglo-saxônica proveniente do sudeste se interrompe, quando já tinha atingido as fronteiras da planície de Salisbury, em Berkshire e Hampshire, reiniciando somente meio século mais tarde. Não é sabido se Arthur e seus guerreiros atingiram o topo ou se foram os sitiantes; de qualquer modo o resultado foi o massacre dos saxões. Essa referência e aquela em que tanto Arthur como Modred morrem na Batalha de Camlann foram os profundos alicerces com os quais se ergueu a elevada e bem estruturada fama de Arthur.

A Historia Brittonum 

Em segundo lugar, em importância como documento histórico, é a coleção do monge galês Nênio, da metade do século VIII, onde, segundo ele, agrupou tudo aquilo que havia encontrado nos anais romanos, os escritos dos santos padres e a tradição dos sábios. Esta coleção faz parte da Historical Miscellanny e é conhecida como Historia Brittonum (História dos Bretões). Começa com a recapitulação de outros trabalhos, inclusive o cálculo das seis era do mundo, iniciando com o Dilúvio; a seguir vem o que é chamado de seção independente, informações das quais Nênio foi a única fonte. Relata a carreira de Vortigern e o estímulo dado aos saxões. Nênio conta a história da descoberta, feita por Vortigern, de um menino clarividente, chamado Ambrosius, cuja mãe confessa ter sido ele gerado por um íncubo. Esse menino diz que o castelo que Vortigern se esforça tanto para construir não ficará em pé e avisa-lhe para drenar o poço que ele encontrará debaixo de suas fundações. Assim que for esvaziado, nele se descobrirão dois dragões: um vermelho e outro branco, que lutarão entre si. O branco vence o vermelho e o menino diz que a luta prediz a vitória saxônica sobre os bretões.

Depois dessa fábula vem uma passagem que, apesar de ter sido escrito muito tempo depois, será tão preciosa quanto os registros dos Anais da Páscoa. Inicia indicando uma data: "Depois da morte de Hengist, seu filho Octha, proveniente do norte da Bretanha, fixa-se em Kent, de onde inicia a dinastia dos reis de Kent". A ascensão de Octha, sob o nome de Aesc, ocorreu em 488, de acordo com a Crônica Anglo-Saxônica. Nênio continua: "Então, naqueles dias, Arthur lutou contra eles junto com os reis bretões, tendo sido o líder das batalhas". Isto mostra que, após a retirada dos romanos, muitos reis, soberanos de pequenos reinos britânicos, uniram-se contra os saxões, sendo Arthur comandante geral das tropas combinadas. Não foi somente Nênio que afirmou que Arthur não foi um rei propriamente dito; em outro capítulo do livro The Marvels of Britain (As maravilhas da Bretanha), ele o chama de um simples soldado, ou miles; Nênio fala ainda de Cabal, o cachorro, e do túmulo de Anwr, filho de Arthur, o soldado.

A próxima passagem é rápida e misteriosa; é uma lista das doze batalhas onde Arthur lutou, das quais apenas duas são passíveis de identificação. Nênio diz que a primeira batalha ocorreu no rio Glen, que pode ser tanto em Northumberland como em Lincolnshire. A segunda, a terceira, a quarta e a quinta batalhas aconteceram no rio Dubglas, in regio Linnus, o que pode significar Lindsey, em Lincolnshire. A sexta foi em Bassas, nome que não foi traduzido. A sétima foi a Batalha de Caledonian Wood, que se acredita ser uma floresta em Strathclyde. A oitava foi na Tor Guinnion, lugar que não foi identificado geograficamente, mas é assinalado pela narração de que ali Arthur teria carregado nos ombros a imagem da Virgem Maria, por cuja virtude e pela de Jesus Cristo, os pagãos teriam sidos expulsos. A nona ocorreu na cidade de Legion, nome romano de Chester. A décima foi na praia de Tribuit; a décima primeira, na montanha de Agned; e a décima segunda no monte Badon, e foi aí que Nênio disse que tinham caído novecentos e sessenta em um violento ataque desfechado por Arthur. Apesar de não ser possível delinear com exatidão onde ocorreram, parece que as batalhas ocorreram em uma área ampla, que ia de Strathclyde, no noroeste oriental, talvez até Northumberland ou, mais para o sul, até Lincolnshire; de Chester no oeste até algum lugar no sudoeste, onde o combate do monte Badon culminaria com uma vitória definitiva, estabelecendo, por fim, cinqüenta anos de paz.

O Reino de Camelot  -  Lenda e Arqueologia

Camelot seria o reino onde Arthur estabelecera sua corte, mas onde ficava Camelot e de onde teria surgido este nome?

Supõe-se que o nome Camelot, referindo-se à suposta capital de Arthur, tenha sido dado pela primeira vez, no século XII, pelo romancista francês Chrétien de Troyes. Não há nenhuma garantia histórica sobre a existência de tal capital e essa idéia só entra na história depois que o general Arthur se transformou mitologicamente na figura do rei. Acredita-se que Camelot seja uma corruptela francesa para camalodunum, nome romano de Colchester. Em 1542, um antiquario chamdo John Leland visitou a colina de Cadbury, em Somerset, que os habitantes chamavam de Palácio de Arthur, e ficou realmente convencido de que lá ficava a Camelot de Arthur, o que levou a chamá-la de Camelot e interpretar erroneamente o nome da vila vizinha de Queen s Camel, dizendo que originalmente poderia ter-se chamado Queen s Camellat. Essa associação infeliz ocultou as prentenções de cadbury ser a verdadeira fortaleza de Arthur.

Cadbury, próxima a Glastonbury, é um monte de 75 metros de altura cujo topo se estende por 8 hectares. O monte é cercado por quatro elevações, uma acima da outra, remanescentes de antigas obras de defesa. Em 1960, provou-se que o local foi habitado entre 500 e 400 a.C.; que os romanos a encontraram ocupada, massacraram alguns de seus habitantes e removeram o restante para o nível do solo; e que mais tarde desmantelaram o forte e aplainaram o topo da colina. Outro estágio das escavações arqueológicas revelou que a colina havia sido refortificada em 470 d.C., fato provado pela presença, nos muros e pilares, de fragmentos de cerâmica do estilo Tintagel do século V. 

Os locais foram sugeridos para a capital de Arthur, como Caerlon-on-Usk, no País de Gales, mostrado nos textos de Godofredo de Monmouth. O patrono de Willian Caxton, que editou a versào de Malory da lenda de Arthur, afirmava que existia uma cidade de Camelot, no País de Gales, que parecem ser os remanescentes romanos de Caerleon. Já Malory identificava Camelot como sendo a atual Winchester. No entanto, parece que as maiores evidências são para a Colina de Cadbury como a fortaleza de Arthur, já que esta servia perfeitamente como quartel-general para alguém que estivesse lutando no sudoeste da Inglaterra, em uma batalha travada no perímetro da planície de Salisbury.

Arthur, por Malory  -  A Lenda Imortalizada

Foi através do romance de Sir Thomas Malory que a lenda do rei Arthur se cristalizou e tomou a forma que conhecemos hoje.

Malory, segundo pesquisas recentes, fora acusado de uma série de crimes: emboscada, roubo, estupro, roubo de gado e chantagem para extorsão de dinheiro. Às vezes estes crimes foram atenuados, outras tantas vezes negados, mas, se tudo tivesse sido provado, Malory não seria nem o primeiro nem o único escritor cuja conduta teria sido altamente anti-social.

Diz-se que Malory foi um cavaleiro de York que serviu, quando jovem, a Richard Beauchamp, conde de Warwick, e que por algum delito, real ou suposto, foi preso pouco antes de 1462. Acredita-se ainda que, naquele ano, acompanhou Warwick em uma expedição contra o exército que Margarida de Anjou recrutara na Escócia e trouxera à Inglaterra, fazendo pilhagens pelo caminho. Quando Warwick virou a casaca e se aliou a Lancaster, lutando contra o exército de Eduardo IV em Barnet, acredita-se que Malory mudou de lado também. Isto, se verdadeiro, explicaria porque, quando Eduardo IV, em 1468, expediu dois indultos a cavaleiros que lutaram com Lancaster, Malory não foi incluído.

Malory esteve na prisão provavelmente em 1468 e acredita-se que tenha morrido neste local, pois foi enterrado na Igreja dos Franciscanos, ao lado da prisão de Newgate. Também é provável que tenha terminado o livro na prisão, pois no final da sua última obra escreve: "Rogo a todos vocês, damas e cavalheiros, que leiam este livro sobre Arthur e seus cavaleiros, do começo ao fim, e que rezem por mim enquanto estiver vivo. Que Deus me dê redenção e, rogo-lhes, rezem por minha alma quando eu já estiver morrido".

Apesar de aborrecida, a prisão de Malory permitiu-lhe escrever um dos maiores trabalhos sobre Arthur na língua inglesa. Uma ampla coletânea de diversas fontes - parte tradução, parte adaptação -, que incluem versões metrificadas da história arthuriana: Morte Arthur (Morte de Arthur), de Thornton, Arthour and Merlin (Arthur e Merlin) e a versão em estrofes de Le Morte Artu (A Morte de Arthur); mas a principal fonte foram as cinco histórias, imensamente longas, do Ciclo Popular Francês (ou Ciclo Bretão). Outras partes do trabalho do qual nenhum original foi encontrado são consideradas de sua autoria. Como conseguiu acesso a uma biblioteca para fazer suas pesquisas é um mistério. Confrontando-se o original de Malory com a forma conhecida, pode-se notar uma grande diferença estrutural. Isto revela o quanto o impressor mexeu na obra.

William Caxton, que começou a vida como vendedor de tecidos, fundou, em 1474, a primeira editora inglesa. Foi ele quem editou a obra de Malory, Morte d Arthur, por causa da persuasão de vários nobres e cavalheiros que, segundo ele, perguntavam porque ele não imprimia a história do famoso rei Arthur. Após Caxton fazer a sua versão, cujo manuscrito desapareceu, nenhum exemplar do texto de Malory foi encontrado, apesar de parecer que tinham sido feitos vários exemplares deste trabalho. Somente após a descoberta de um exemplar do texto de Malory na Fellows  Libary, no Winchester College, em 1934, pôde-se demonstrar o quanto Caxton mexeu na obra original de Malory.

Caxton disse que havia dividido o seu trabalho em vinte e um livros, cada qual divididos em capítulos. E fez mais: disfarçou o fato de que Malory havia escrito oito contos separados e independentes; alterou a ordem na qual Malory os tinha articulado e omitiu todos os finais escritos por Malory, exceto o últimos, com finalidade de fazer com que o livro parecesse não uma coleção de histórias, mas um todo homogêneo.
Fonte: http://www.geocities.com/athens/3748/biblio.html
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