PERCEBER SEM NOMEAR
ECKHART TOLLE
 




ECKHART TOLLE

As pessoas, em sua maioria, estão apenas superficialmente conscientes do mundo que as cerca, sobretudo quando estão familiarizadas com o ambiente em que se encontram. A voz na cabeça absorve a maior parte de sua atenção.

Há quem se sinta mais vivo quando viaja e conhece lugares desconhecidos ou outros países porque, nessas ocasiões, a percepção sensorial ocupa mais a sua consciência do que o pensamento. Esses indivíduos se tornam mais presentes.

Outros permanecem sob o total domínio da voz da cabeça até mesmo nessas situações. Suas percepções e sensações são distorcidas por julgamentos instantâneos. Na verdade, eles não chegaram a ir a lugar nenhum. Apenas seu corpo está viajando, enquanto eles permanecem onde sempre estiveram: na própria cabeça.

Essa é a realidade da maior parte das pessoas: tão logo alguma coisa é percebida, ela é nomeada, interpretada, comparada com outra coisa qualquer, apreciada, detestada ou chamada de boa ou má pelo eu-fantasma, o ego. Elas estão aprisionadas nas formas pensamento, na consciência do objeto.

Ninguém desperta espiritualmente enquanto não interrompe o processo compulsivo e inconsciente de nomear, ou pelo menos, até que tome consciência dele e assim seja capaz de observá-lo enquanto ocorre.

É por meio desse nomear constante que o ego permanece em atividade como a mente não observada. Sempre que ele para e até mesmo quando nos tornamos conscientes dele, há lugar para o espaço interior e então deixamos de ser possuídos pela mente.

Agora, escolha um objeto próximo a você - uma caneta, uma cadeira, uma xícara, uma planta - e examine-o visualmente, ou seja, olhe para ele com grande interesse, quase com curiosidade.

Evite itens com fortes associações pessoais que o façam se lembrar do passado, como onde você os comprou, de quem os ganhou, etc. Deixe de lado também tudo o que tenha algo escrito, como um livro ou uma garrafa. Isso pode estimular o pensamento.


Sem fazer esforço, relaxado mas alerta, dedique total atenção ao objeto, a cada detalhe dele. Se surgirem pensamentos, não se envolva com eles. Não é neles que você está interessado, e sim no ato da percepção em si.


Você consegue tirar o pensamento da percepção?


É capaz de observar sem que a voz na sua cabeça faça comentários, tire conclusões, compare ou tente descobrir alguma coisa?


Depois de uns dois minutos, deixe seu olhar vagar pelo ambiente, com sua atenção alerta iluminando cada coisa sobre a qual ela pousar.


Depois, ouça os sons que possam estar presentes. Faça isso da mesma maneira como olhou para as coisas ao seu redor. Talvez alguns sons sejam naturais - água, vento, pássaros - enquanto outros sejam artificiais. Alguns podem ser agradáveis, outros desagradáveis. No entanto, não faça diferenças entre bons e maus.


Deixe casa som ser como ele é, não o interprete.

Nesse caso também, o segredo é a atenção relaxada, porém alerta.

No momento em que olhar e escutar desta maneira, você poderá se tornar consciente de um sentimento sutil de calma, que, a principio, talvez seja difícil de perceber. Algumas pessoas o sentem como um silêncio em segundo plano.

Outras preferem chamá-lo de paz.

Quando a consciência não está mais absorvida pelo pensamento, uma parte dela permanece no seu estado natural, não condicionado, sem forma.
Esse é o espaço interior.

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Presente da natureza por ECKHART TOLLE

Dependemos da natureza não só para a nossa sobrevivência física.
Também necessitamos da natureza para que nos ensine o caminho para casa, o caminho para sairmos da prisão de nossas mentes. Nós nos perdemos no fazer, no pensar, no recordar, no antecipar; estamos perdidos em um complexo labirinto, em um mundo de problemas. Esquecemos aquilo que as rochas, as plantas e os animais já sabem.

Nos esquecemos de ser.

De sermos nós mesmos, de estar em silêncio, de estar onde está a vida: aqui e agora.

Focalizar a atenção em uma pedra, em uma árvore ou em um animal, não significa “pensar neles”, mas simplesmente percebê-los, dar-se conta deles. Então, eles te transmitem algo de sua essência. Sente quão profundamente descansam no ser, completamente unificados com o que são e com onde estão. Ao perceber isto, tu também entras em um lugar de profundo repouso dentro de ti mesmo. Quando caminhares ou descansares na natureza, honra este reino, permanecendo aí plenamente.

Acalma-te, olha, escuta.

Observa como cada planta e cada animal são completamente eles mesmos. Diferentemente dos humanos, não estão divididos em dois. Não por meio de imagens mentais de si mesmos, e por isso não precisam preocupar-se em proteger e potencializar estas imagens. Todas as coisas naturais, além de estarem unificadas consigo mesmas, estão unificadas com a totalidade. Não se afastaram da totalidade exigindo uma existência separada: “eu”, o grande criador de conflitos. Quando percebes a natureza apenas com a mente, por meio do pensamento, não podes sentir sua plenitude de vida, seu ser. Unicamente vês a forma e não estás consciente da vida que a anima, do mistério sagrado. O pensamento reduz a natureza a um bem de consumo, a um meio para conseguir benefícios, conhecimento, ou a algum outro propósito prático.

Observa, sente um animal, uma flor, uma árvore, e vê como descansam no ser. Cada um deles é ele mesmo. Eles tem uma enorme dignidade, inocência, santidade.

No momento em que olhas além dos rótulos mentais, sentes a dimensão inefável da natureza, que não pode ser compreendida pelo pensamento. É uma harmonia, uma sacralidade, que além de preencher a totalidade da natureza, também está dentro de ti.

O ar que respiras é natural, como o próprio processo de respirar. Dirige a atenção à tua respiração e percebe que não és tu que respira. A respiração é natural. Conecta-te com a natureza de modo mais íntimo e interno percebendo a tua própria respiração e aprendendo a manter tua atenção nela.

Este é um exercício que cura e energiza consideravelmente. Produz uma mudança de consciência que te permite ultrapassar o mundo conceitual do pensamento e atingir a consciência incondicionada. Precisas que a natureza te ensine e te ajude a reconectar-te com teu ser. Não estás separado da natureza. Todos somos parte da Vida Única que se manifesta em incontáveis formas em todo o Universo, formas que estão, todas elas, completamente interconectadas.
Quando reconheces a santidade, a beleza, a incrível quietude e dignidade que existe em uma flor ou em uma árvore, acrescentas algo a esta flora ou a esta árvore.

Pensar é uma etapa na evolução da vida. A natureza existe em uma quietude inocente que é anterior à aparição do pensamento. Quando os seres humanos se aquietam, vão além do pensamento. A quietude que está além do pensamento contém uma dimensão maior de conhecimento, de consciência. A natureza pode levar-te à quietude.

Este é o presente dela para ti.

Trecho do livro "Um Novo Mundo - O Despertar de uma Nova Consciência"
por Eckhart Tolle.

Postado por Solange Christtine Ventura
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